BEATA ALEXANDRINA
BEATA ALEXANDRINA
(Continuaçāo)
05 – NA CRUZ COM CRISTO
A Beata Alexandrina, pelo seu próprio sofrimento, uniu sua vida aos Sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, o Seu Amado queria que ela estivesse com Ele desde a Agonia no Horto das Oliveira até o Monte Calvário.
Em 1934, Jesus falou à Beata que a queria crucificada com Ele:
"Dá-me as tuas mãos, que as quero crucificar; dá-Me os teus pés, que os quero cravar comigo; dá-Me a tua cabeça, que a quero coroar de espinhos, dá-Me o teu coração que a quero trespassar com a lança, como Me trespassaram a Mim. Consagra-Me todo o teu corpo; oferece-te toda a Mim! "
Contudo somente a 03 de Outubro de 1968 Alexandrina revive em seu próprio corpo a Paixão de Nosso Grande Deus e Senhor Jesus Cristo. Quando revivia a Paixão, Alexandrina, mesmo paralisada na cama desde 1925, em êxtase, levanta-se, prostra-se completamente no chão com os braços erguidos. Depois de um tempo levanta-se ajoelha-se e ergue os olhos ao céu e abre os braços, repete por três vezes este sinal. Neste momento revive a Suprema Angústia de Jesus no Horto, ouve-se alguns gemidos e soluços. Algumas pessoas assistiram no decorrer dos anos estas cenas e choravam muito. Era perceptível o momento da traição de Judas e da prisão de Jesus. Andando ou arrastando-se pelo quarto repetia as palavras que Jesus falou a Pilatos. Durante a flagelação, a Alexandrina ficava de joelhos apoiada na cama e algumas vezes caia no chão, ficava completamente molhada de suor. Em seguida recebe a Coroa de Espinhos, o que torna visível as dores que sente na cabeça.
No momento de carregar a Cruz, a Alexandrina anda vagarosamente pelo quarto, carregando um imenso peso às costas. Caía, exatamente três vezes, com grande força, tanto que chegava a machucar os joelhos. Também se percebia um certo alívio, no momento em que era ajudada pelo Cireneu. Depois de um tempo a caminhar, deitava-se ao chão, com os braços abertos – era a hora da crucifixão. Percebia-se o momento que os pregos perfurarem os seus pulsos e os seus pés. Após este momento a Beata levantava e fica na posição de Cruz, permanecendo assim por um certo tempo, até quando, prostrada, exclamava:
“Pai, em tuas mãos eu entrego o Meu Espírito”.
Estas cenas se repetiram de 1938 até 27 de Março de 1942. A partir desta data, a Alexandrina continuou a reviver a Paixão de Nosso Senhor, só que não mais visivelmente com todas estas cenas e sim deitada na sua cama em êxtase. Destes momentos temos muitas referências nos escritos de Alexandrina.
"Esta manhã saí da prisão e, por horas, percorri muitas estradas, desfalecida, caindo aqui e ali: Ficava com o rosto em terra e a terra fechava os meus lábios sufocando os gemidos da minha dor.
Sentia chegarem-me de longe as zombarias de escárnio e satisfação.
Com quanta fadiga subi o calvário.
Lá em cima tiraram-me as cordas que tinha ao pescoço e à cintura. Que dores!
Estavam cravadas na carne, embebidas de sangue.
No arrancá-las deixaram-me no corpo a que estavam coladas sinais de grandes feridas.
Custou-me muito ser despida em público: Com as vestes levaram-me pedaços de carne.
Não os olhos do corpo mas os da alma viam que com a espada cortavam as vestes para distribuí-las. A alma sentia tudo.
Com os olhos ao céu, aterrorizada pelas trevas e abandono, ouvi sair muitas vezes do coração este grito:
Pai, Pai, não desvies de mim o teu Rosto; não afastes de mim o teu olhar! Os meus olhos, mergulhados nas trevas, não podiam ver nada; havia neles outro olhar que via tudo.
Viam, através dos tempos, o sofrimento que até ao fim do mundo devia ferir um Coração que estava vizinho do meu. Aquele coração sentia toda a ingratidão do mundo.
As orelhas tinham outro ouvido para ouvir os insultos, as maldades, os delitos de todos os tempos. Ondas contínuas se levantavam no mar imenso do sofrimento.
No meu corpo sentia Jesus:
Era Ele o crucificado, era Ele que do alto da cruz contemplava a Mãezinha numa agonia de dor e murmurava:
Mãezinha, Mãezinha, até tu me serves de martírio: a tua dor aumenta a minha; nem tu me podes dar consolo.
Parecia-me que o coração e a alma fossem despedaçados pelas punhaladas. (04/05/45)
A união mística entre Jesus e a Beata Alexandrina se deu por seu amor incondicional à Santíssima Eucaristia, mas também pela união no sofrimento e na Paixão. Sua Santidade o Papa João Paulo II, de santa memória, assim resumiu a vida da Beata:
"A vida da beata Alexandrina Maria da Costa pode resumir-se neste diálogo de amor. Permeada e ardorosa desta ânsia de amor, não quis negar nada ao seu Salvador: forte de vontade, aceita tudo para lhe demonstrar que o ama. Esposa de sangue, revive misticamente a paixão de Cristo e oferece-se como vítima pelos pecadores, recebendo a força da Eucaristia que se torna o seu único alimento nos últimos seus treze anos de vida.
Contudo, o Santíssimo Esposo deu à Beata Alexandrina uma grande prova de Seu amor: uma Gota do Seu Precisíssimo Sangue." Segundo S. Tomás de Aquino e S. S. Clemente IV, uma só Gota deste Precioso Sangue bastaria para salvar o mundo de toda a culpa. À Beata Aelxandrina, segundo o próprio Jesus, foi a primeira alma a receber uma Gota do Seu Sangue, desta forma tão extraordinária.
"Venho depressa, minha filha, a dar-te a vida : só recebendo-a de Mim poderás viver. E para que vivas opero um milagre.
Vou dar-te mais três gotas do Meu Sangue divino: é com ele que tu vives.
Vou fazer esta transformação sagrada, transformação divina: transformar-Me em ti, transformar-te em Mim.
És o fontanário das almas. É este sangue o maná que lhes preparo, o maná que vem do Céu. Dá-o, dá-o ao mundo: é este sangue o sangue da pureza, o sangue da nova geração. O sangue de Cristo, o sangue da Minha esposa e virgem.
Estudem, estudem os doutores da Igreja, estudem os sábios; repito: estudem os doutores e sábios das ciências divinas.
Que maravilhas, que prodígios opero na tua alma! Que riquezas dou por ti ao mundo, ao mundo que é meu, ao mundo que é teu, porque to confiei!" (02/11/1945)
Este fenômeno místico, no qual a Beata recebe o Sangue de Cristo, será repetido muitas outras vezes:
"Dar-te-ei o meu Sangue gota a gota, assim como gota por gota o dás por Mim e pelas almas”. (29-6-45)
"Recebe-o antes que percas todo o sangue que tens em tuas veias.
Quero sempre esta mistura: o sangue da vítima deste Calvário (o lugar de Balasar onde vive Alexandrina), da maior vítima da humanidade, com o sangue da Vítima do Gólgota, de Cristo redentor. Assim tens todo o poder e tudo vencerás." (19/10/45)
O próprio Cristo menciona que teria guardado tal particularidade mística para a maior vítima da humanidade.
"Vou dar-te a gota do meu divino Sangue, a maior prova do meu infinito amor, a maior de todas as maravilhas, a maravilha única, que tinha destinado de dar à maior vítima da humanidade, a quem confiei a missão mais sublime. "(13/02/1948)
"Recebe agora esta gota do Meu divino Sangue,
a vida que vives
a vida com que dás as vidas,
a vida de prodígios e de maravilhas,
a vida que a nenhuma outra vida foi igualada.
És a primeira alma a quem desta forma dei o meu Sangue."
Alexandrina, também tinha recebido os estigmas, mas de forma escondida, pois tinha pedido a Jesus que eles não ficassem visíveis. Sobre estas chagas escondidas o próprio Jesus falou:
"Pouco depois, de todas as suas Chagas divinas saíram raios que me vinham trespassar os pés e as mãos! Da sua sacrossanta cabeça para a minha passava-se também um «sol» que me trespassava todo o cérebro."
Falando do primeiro clarão e raios que saíam do seu Divino Coração, disse Jesus com toda a clareza:
— Minha filha, à semelhança de Santa Margarida Maria, eu quero que incendeies no mundo este amor tão apagado nos corações dos homens.
Incendeia-o, incendeia-o!
Eu quero dar, Eu quero dar o meu Amor aos homens!
Eu quero ser por eles amado. Eles não mo aceitam e não Me amam.
Por ti quero que este amor seja incendiado em toda a humanidade, assim como por ti foi consagrado o mundo à minha Bendita Mãe.
Faz, esposa querida, que se espalhe no mundo todo o amor dos nossos Corações!
— Como, Jesus? Como trabalhar dessa forma?! Se ele não é aceito por Vós, como hão-de os homens recebê-lo por mim?
— Com a tua dor, com a tua dor, minha filha! Só com ela as almas ficam agarradas às fibras da alma e depois se vão deixar os corações incendiar no meu amor.
Deixa que estes raios das minhas Chagas divinas vão penetrar nas tuas chagas escondidas, nas tuas chagas místicas." (01/10/1954)
06 – A DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA VIRGEM
E A CONSAGRAÇÃO DO MUNDO AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA.
A Beatíssima Virgem estava muito presente na Vida da Beata Alexandrina; pode-se afirmar que Alexandrina teve dois grandes amores: Jesus Eucarístico e a sua Mãezinha (era assim que se referia a Nossa Senhora). Diversas são as orações e poemas à Virgem tributados. A maioria das suas orações a Jesus é encerrada em união com a Virgem Maria. Vivia, principalmente no mês de Maio, uma profunda intimidade com Maria: era o mês mais feliz do ano! A própria revelação de Jesus à Alexandrina confirma uma intima unidade entre a devoção à Virgem através do Rosário e a Adoração a Jesus no Santíssimo Sacramento do Altar.
"Se vierem ao sacrário nas devidas disposições e rezarem o Rosário, ou uma parte dele, todos os dias, de mais nada mais é preciso para que se afaste a justiça de Deus."
Jesus confiou à Alexandrina a missão de acender no mundo a Adoração ao Santíssimo Sacramento e a Consagração ao Imaculado Coração de Maria.
"Somente por Ela (Virgem Maria) o mundo poderá ser salvo, e se o mundo fizer penitência e se converter. Ela é a Minha Rainha, Rainha do céu e da terra." (25/04/1938)
Veja-se um dos seus belos sobre a sua “Mãezinha”, que tem a forma de carta:
"Eu Vos saúdo, ó Cheia de Graça!
Ave Maria, cheia de Graça!
Eu Vos saúdo, ó Cheia de Graça!
Soberana Rainha do Céu e da Terra, Mãe dos pecadores,
Eu, a mais indigna de todas as Vossas filhas,
Vos agradeço de todo o coração,
Ó Santa Mãe de Deus,
Por terdes consentido que o meu Amabilíssimo Jesus
Encarnasse em Vossas puríssimas entranhas
Para redenção da Humanidade.
Sim, minha Mãezinha, encarnar, nascer,
Viver trinta e três anos no mundo,
E por fim morrer numa cruz
Pelos miseráveis filhos de Eva!...
Entenda quem puder tantos excessos de Amor, que eu por mim só tenho que confundir-me e lamentar este meu pobre coração, por não ter correspondido a tanta bondade dos meus dois queridos Amores, Jesus e Maria!
A mais indigna das Vossas filhas."
O seu amor a Santíssima Virgem ocorreu de maneira tão bela que a Virgem Maria, no dia 02 de Dezembro de 1944, lhe entregou o Seu Santíssimo Manto:
"Aceita o meu santíssimo Manto, aceita-o... Podes cobrir com o meu manto o mundo inteiro, chega para todos. Aceita a minha coroa... És rainha."
Para a Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, solicitada à Beata por Jesus, contou com a ajuda do seu primeiro diretor espiritual, o sacerdote jesuíta Pe. Mariano Pinho, que mais tarde veio para o Brasil. A empreitada não era fácil: por ela a Alexandrina viveu visivelmente a Paixão de Cristo.
No dia 30 (de Julho), depois da sagrada Comunhão... ouvi que Ele (Jesus) me chamava:
— Minha filha... manda dizer ao teu pai espiritual que... assim como pedi a Santa Margarida Maria para ser o mundo consagrado ao meu Divino Coração, assim o peço a ti para que seja consagrado a Ela (“Virgem sem mancha de pecado”) com uma festa solene."
O Pe. Mariano Pinho, sempre com os pés bem assentes, leu atentamente a carta, mas esperou. Um ano depois, em fins de Agosto de 1936, teve de pregar um tríduo em Balasar. Volvidos poucos dias após o seu regresso a casa, recebe uma carta da Alexandrina, datada de 10 de Setembro, em que lhe é transmitido novo recado de Jesus :
— Manda, filhinha, já dizer ao teu pai espiritual que espalhe já, que faça chegar aos confins do mundo que este flagelo (a revolução comunista em Espanha — anota o Pe. Pinho) é um castigo... Eu vou dizer-te como será feita a consagração do mundo à Mãe dos homens e minha Mãe Santíssima. Amo-A tanto! Será em Roma, pelo Santo Padre, consagrando a Ela o mundo inteiro e depois pelos Padres em todas as igrejas do mundo, sob o título de Rainha do Céu e da terra, Senhora da Vitória. Se o mundo corrompido se converter e arrepiar caminho, Ela reinará e a vitória por Ela será ganha. Vai, minha filha, não haja receios que os meus desejos sejam cumpridos."
Se, à distância de todo este tempo, examinarmos o comportamento de Pio XII no tocante a este assunto, veremos como ele se ateve fielmente a estas indicações de grande importância pastoral. Para além da consagração do Mundo a Maria, efectuada em 1942, aquele grande Papa instituiu a festa de Nossa Senhora Rainha em 31 de Maio, ou seja, na conclusão de um mês de pregações então muito seguido pelos fiéis. Também decretou que, por essa ocasião, todos os sacerdotes renovassem a consagração do mundo a Maria.
E pena que estas sábias disposições pastorais tenham sido abolidas.
Primeiros passos junto do Cardeal Pacelli
As primeiras respostas às palavras ouvidas durante os êxtases da Alexandrina foram imediatas. O Padre Mariano, que já reflectia havia um ano e rezava por esta comunicação celeste, a 11 de Setembro de 1936 escreveu uma breve carta ao então Secretário de Estado, o Cardeal Pacelli, expondo sucintamente aquilo de que se tratava. De Roma, imediatamente pediram informações sobre a Alexandrina ao Arcebispo de Braga. As informações foram boas e muito exactas, pois que o Arcebispo se valeu para o efeito do auxílio do Pe. Pinho. Depois, a Santa Sé mandou um seu representante, como já dissemos, o P.e Paulo Durão, Provincial da Companhia de Jesus em Portugal, que encarregou o seu irmão, Padre António, também Jesuíta, do desempenho dessa missão.
A visita à Alexandrina realizou-se no dia 21 de Maio de 1937 e vem descrita na autobiografia da Serva de Deus. A impressão colhida pelo Pe. António e transmitida para o Vaticano pelo irmão, Pe. Paulo Durão, foi óptima.
Decorrido quase um ano, na noite de 24 para 25 de Abril de 1938, a Alexandrina ouviu Nosso Senhor segredar-lhe:
"Atenta ao que te vou dizer, para que se não perca nenhuma palavra. O teu pai espiritual é boa testemunha da angústia que te fiz passar. Diz-lhe que escreva ao Santo Padre, que Eu quero a consagração do mundo à minha Imaculada Mãe."
Nesse instante, a Alexandrina teve a visão de grandes ruínas. E a voz acrescentou:
"O que vês é o castigo que está preparado para o mundo... Só por Ela poderá ser salvo e se fizer penitência e se converter."
Movimenta-se o Episcopado português.
O Padre Pinho escreveu pela segunda vez ao Cardeal Pacelli no dia 9 de Fevereiro de 1938, sem imaginar que estava muito próxima a ascensão do Cardeal ao Pontificado. Entretanto, aproveitou uma outra ocasião que podemos considerar como historicamente decisiva. Em princípios de Maio de 1938, foi encarregado de pregar os Exercícios Espirituais aos Bispos portugueses, reunidos em Fátima. Teve assim a oportunidade de lhes falar também da Alexandrina e do pedido de Jesus. A sua palavra foi tão convincente que o Episcopado português, no fim dos Exercícios, dirigiu colegialmente um pedido oficial ao Papa, a fim de obter a consagração de Maria (a súplica tem a data de 13 de Maio de 1938).
À procura de “Sinais”
Mas parecia que tudo isso não fosse suficiente. Falámos do Pe. António Durão, que em 1937 tinha ido examinar a Alexandrina por mandato da Santa Sé. Através do seu irmão Pe. Paulo, Provincial dos Jesuítas em Portugal, sabemos que o bom êxito da visita não convenceu. Pretendia-se um sinal exterior que autenticasse a origem sobrenatural das locuções interiores e, particularmente, do pedido da Alexandrina. Este sinal foi dado pela Paixão revivida todas as Sextas-Feiras, desde o dia 3 de Outubro de 1938 até ao dia 27 de Março de 1942, exactamente durante o período em que amadureceu a ideia e se decidiu fazer a consagração.
Durante um êxtase, no primeiro ano, Jesus tinha dito a Alexandrina:
“Eu quero a consagração do mundo à minha Mãe Imaculada... E por isso que te faço sofrer assim, e tens de sofrer muitas vezes isto, até que ele (o Papa) o consagre”.
Carta aos Papas
Quando começaram os fenómenos da Paixão (3.10.38), o Pe. Pinho informou directamente o Santo Padre Pio XI, através duma carta datada de 24 de Outubro desse mesmo ano. Depois escreveu ainda outra, desta vez a Pio XII, no dia 31 de Julho de 1941. Já a sua primeira carta tinha obtido um resultado: a Santa Sé decidira proceder a um novo exame sobre a Alexandrina. Foi dele encarregado o Cónego Manuel Pereira Vilar, Reitor do Seminário de Braga, depois Reitor do Pontifício Colégio Português, em Roma.
Em Janeiro de 1939, o Cónego Vilar interrogou a Alexandrina, conforme ela própria narra na autobiografia. Depois do colóquio, ele quis assistir ao fenómeno da Paixão. Naquela ocasião, nos êxtases que habitualmente se seguiam, Jesus repetiu o Seu desejo de que o mundo fosse consagrado a Sua Mãe.
A impressão que o Cónego Vilar colheu dos vários encontros com a Alexandrina foi óptima. Fez sua a causa e, a partir daquele momento, não hesitou em prodigalizar-se para que acreditassem na “crucificada de Balasar” e se chegasse à consagração pedida. Transferido para Roma, procurou falar pessoalmente com o Santo Padre. Não o tendo conseguido imediatamente, enviou ao Papa toda a documentação que tinha preparado na sua missão de inquérito a respeito da Alexandrina e do pedido de Jesus. Infelizmente, a saúde não o ajudou e não pôde ver realizado o que tinha sido também um sonho seu. Regressado a Portugal para ser tratado num hospital do Porto, veio a falecer de cancro em 1941.
Ao morrer Pio XI, a Alexandrina afirmava com toda a segurança que o novo Papa seria o Cardeal Pacelli. Depois, imediatamente após a eleição de Pio XII, teve a confirmação disso da parte do Céu:
“Este é o Papa que fará a consagração” (20 de Março de 1939).
Chegou-se finalmente a 1942, o ano da consagração e um dos anos mais dolorosos da vida da Alexandrina. Ela, em Janeiro, recebe a visita de despedida do P.e Mariano Pinho, transferido pelos seus Superiores para o Brasil. A Alexandrina continuará a esperar durante todo o resto da vida, mas em vão, de voltar a tê-lo como seu guia espiritual. No dia 27 de Março, a enferma revive pela última vez a Paixão, acompanhada por movimentos externos. Até ao fim da sua vida continuará a vivê-la, mas sem manifestações visíveis, de tal modo que os presentes que a não conhecessem bem não se apercebiam de nada.
Nesse mesmo dia, teve início um novo prodígio: o jejum total, acompanhado por uma anúria completa. A partir de então, nunca mais poderá comer nem beber nada, embora sinta fortemente os estímulos da fome e da sede. Somente poderá receber a comunhão, que se tornará o seu único alimento do corpo, além de ser o alimento da alma. No dia 3 de Abril, Sexta-Feira Santa, começa a sofrer as dores da segunda morte mística, que durarão cerca de dois anos.
A consagração
Como recompensa de tantos sofrimentos, a 22 de Maio desse ano (1942), Nosso Senhor anuncia-lhe:
"Glória, glória, glória a Jesus!
Honra, honra e glória a Maria!
O coração do Papa, o coração de oiro está resolvido a consagrar o mundo ao Coração de Maria!
Que grande dia e alegria para o mundo, pertencer mais que nunca à Mãe de Jesus!
Todo o mundo pertence ao Coração Divino de Jesus; vai pertencer todo ao Coração Imaculado de Maria!"
Finalmente, no dia 31 de Outubro, todo o mundo pôde ouvir a radiomensagem através da qual, em língua portuguesa, Pio XII consagra o mundo ao Coração Imaculado de Maria. A mesma fórmula da consagração será depois repetida, em língua italiana, na Basílica de S. Pedro, no dia 8 de Dezembro seguinte. A Alexandrina soube da notícia imediatamente, por um telegrama que o Pe. Pinho lhe enviou de Fátima, onde se encontrava naquele dia juntamente com os Bispos portugueses, com muitos sacerdotes e uma grande multidão de povo. Foi, de facto, um dia muito feliz para ambos.
Mas não esclareceremos completamente este assunto se não acenarmos a um facto que interveio e que pôde encorajar ainda mais a tomada de decisão pontifícia. Lúcia de Fátima estava a desempenhar a missão que o Céu lhe tinha confiado. Em 1917, Nossa Senhora tinha-lhe dito: “Virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração”. Manteve esta promessa aparecendo a Lúcia em 1929, em Tuy, onde ela se encontrava nessa altura: “Chegou o momento em que Deus pede que o Santo Padre faça, em união com todos os Bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Coração Imaculado, prometendo salvá-la por este meio”. A partir daquele momento, a Irmã Lúcia escreveu muitas cartas e fez tudo o que estava ao seu alcance para dar a conhecer e realizar os desejos da Virgem, mas com pouco sucesso.
Note-se bem esta diferença: à Irmã Lúcia tinha sido confiada a mensagem de pedir a consagração somente da Rússia e não do mundo. Portanto, a isso se limitou o pedido da vidente de Fátima. Quando, em 1938, a seguir à pregação do Pe. Pinho, o Episcopado português pediu ao Papa a consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria, estava presente e apoiante também o Bispo titular de Gurza, D. Manuel Ferreira da Silva, que, na altura, era confessor da Irmã Lúcia. Este informou a sua penitente do pedido dos Bispos — que tinha probabilidades de ser atendido — e aconselhou-a a juntar a sua súplica à deles. (Gabriele Amorth, Por detrás de um sorriso, Ed. Salesianas, Porto, 1994, pp. 75-85)
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