A ORIGEM DA FESTA DE PENTECOSTES

 

A origem da festa de Pentecostes



As peregrinações dos fiéis da Igreja Católica a lugares considerados santos é uma herança da prática do judaísmo antigo. Os judeus tinham de ir todos os anos às suas três grandes solenes celebrações (Ex 23, 14-17). Jerusalém, a cidade santa, era tomada de peregrinos na festa da Páscoa (ou dos Pães Ázimos), das Semanas (Colheitas) e das Tendas (Cabanas ou Tabernáculos). As duas primeiras festas, da Páscoa e das Semanas, foram absorvidas completamente pelo calendário litúrgico dos cristãos. Quando a hegemonia grega alcançou os israelitas, a Festa das Semanas passou a ser chamada de Pentecostes (Tb 2,1; 2Mc 12,32), que é a soma dos dias das sete semanas (49) mais um dia (50). Antes de ser Festa das Semanas, contudo, e receber outro nome após a dominação helênica, fora batizada como Festa das Colheitas (Ex 23,16) porque deviam ser oferecidos os primeiros frutos da terra a Deus. Essa comemoração, talvez, seja de origem Cananéia. Era uma celebração de cunho agrícola que, certamente, passada no roçado do trigo e da cevada, só posteriormente veio a se tornar culto no Templo de Jerusalém.

Isso aconteceu no suceder de alguns anos. Agora, entremeada em outro contexto, desenvolveu uma nova liturgia (Lv 23,15-21). E não para por aí. Ora, tempos depois, pode-se notar outra grande mudança na liturgia de Pentecostes, celebrada por sete dias, uma semana inteira (Dt 16, 9-15). Era um festejo com certo viés ético e social, ou seja, os pobres e os estrangeiros tinham direito à respiga, isto é,  a apanhar no campo as espigas que ficavam depois da colheita (Lv 23, 22). E também forte caráter transcendente-antropológico, quer dizer, a celebração devia unir o senhor e seus filhos e filhas, levitas, escravos, órfão, estrangeiros e viúvas sob a presença do próprio Deus (Dt 16, 11). Essa ‘Santa Convocação’ prefigurava a unidade na diversidade das assembleias litúrgicas (Lv 23, 21), fazendo memória ao agir do Criador que mantém possível a existência humana no mundo. Era verdadeiro ato de fé. Este, ratificado e aprofundado no sentido, não somente do poder divino na criação, mas apresentava ainda todo o significado da ação libertadora do Senhor da Montanha. E a fraternidade dos trabalhadores israelitas não era exclusiva, porém, inclusiva, como se viu, estendida a todos e a cada um dos pobres e marginalizados da terra habitada.

A festividade de Pentecostes, por não se restringir aos judeus, mas abraçar senhores e pobres, livres e escravos, filhos e servos, era um grande movimento à verdadeira manifestação de universalidade fraterna e solidária desejada por Deus para todo o gênero humano. A escassez de amor entre as classes, as raças, os povos e as nações impossibilita a atitude de repartir os dons. A Festa da Colheita, donde nasceu Pentecostes, estimulava a partilha com os menos favorecidos. Os preceitos e as normas, as rubricas e os ritos dessa liturgia serviam para educar os judeus no caminho da autêntica solidariedade a fim de lhes provocar o surgir da paridade social. Na sua originalidade primeira, não obstante tudo isso, Pentecostes se propunha a gerar uma atitude de gratidão e louvor a Deus pela terra recebida e pelos grãos colhidos que sustentam a vida. O povo da Antiga Aliança ensina que fé e vida, rito e realidade, são indissociáveis. E mesmo que a história tenha imposto transformações e evoluções no modo e na liturgia dessa segunda festa dos judeus o essencial não pode ser esquecido, senão, no mais genuíno sentido, sempre feito memória.

Nos dias da Festividade da Colheita, ou de Pentecostes, deveria predominar imensa alegria. Como se viu acima, a festa passou por sensível modificação. O livro do Deuteronômio (16,9-12) manda celebrar a memória do Êxodo do Egito por meio da leitura da Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia) no percorrer das sete semanas da Festa. E ao acolher a Palavra, meditando-a no coração, pô-la em prática. Mas a fraternidade universal, a solidariedade aos pobres (à época eram os órfãos, viúvas e migrantes), aos servos e escravos continua. Juntos aos senhores, seus filhos e suas filhas – e mais o levita – celebravam a liturgia ante a presença do Senhor Deus. Pode-se ver que Pentecostes nasceu ecumênica, ou seja, universal. A festa igualava as raças e o status social vigente, na tendência de tentar suprimi-los, por meio da alegria de estar na presença divina (Dt 16,11), confirmada por meio da assídua e disciplinada leitura orante da Sagrada Escritura.

Por fim, qual o sentido dessa festa para os dias atuais? O que Pentecostes pode agregar para o homem e para a mulher? A nota ecológica trata de fazê-los ver que a terra é dom do Criador, que estão ligados a ela. São terra, porque o corpo é húmus. Não é a terra que lhes pertence, mas eles que pertencemos a terra. Do pó vieram, a ele voltarão (Gn 3,19). Destruí-la exaure a sua possibilidade de existir nesse mundo. Na nota ecumênica, afirma-se a unidade na universalidade. Incentiva-se à plena comunhão (koinonia), onde as barreiras sejam superadas e os obstáculos vencidos. O que vale não é o povo ou classe social pertencente ou vinculante, nem mesmo o credo professado, mas a égide de se estar sob o poder do único Deus. Do ponto de vista duma nota antropológica, Pentecostes recorda que o indivíduo só se realiza no interior de uma comunidade que tem como fim último reconhecer e promover a dignidade humana de cada homem e mulher. A nota sociológica resguarda a obrigação de a sociedade preservar e garantir o acesso dos menos favorecidos, os empobrecidos e marginalizados à renda mínima para sua subsistência. Já a nota eclesiológica aponta para uma assembleia chamada e, por meio dos diversos ministérios, enviada a evangelizar. A teologia traz como nota a assertiva de que o sonho de Deus é reunir, numa só família, os homens e as mulheres, as raças e as línguas, os povos e as nações. Ou seja, que, diante d’Ele, as intrigas e as diferenças sejam superadas abrindo caminho para um mundo novo. Enquanto a nota cristológica assegura que é apenas conhecendo a Palavra, Cristo Jesus, que se entende a finalidade da criação, o dom da liberdade e da ação salvadora do Divino Redentor. Enfim, a nota pneumatológica, o Espírito Santo serve para lembrar tudo o que se deve fazer neste mundo para alçar o céu.

Por: Padre George de Brito, Sacerdote diocesano e Pároco do Sagrado coração de Jesus, em Crato; Especialista em Filosofia Hermenêutica e Mestre em Teologia Dogmática.

Fonte do Texto Diocese de Crato.: https://diocesedecrato.org/a-origem-da-festa-de-pentecostes/

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