6 DICAS PARA UM CASAMENTO FELIZ POR PADRE PAULO RICARDO DE AZEVEDO JR:
Seis dicas para um casamento feliz
À luz da história, é possível dizer que o casamento
“nasceu” em crise. Cristo, no entanto, veio redimir o homem — e também o
matrimônio.
Não há dúvidas de que a família está em crise. À luz da história, no
entanto, é mais exato dizer que a família nasceu em crise. O plano primordial
do Criador para o homem e a mulher - que vivessem o amor, como imagem
do amor com que Deus os criou -, infelizmente, foi perturbado pelo
pecado original. O Catecismo da Igreja Católica destaca que, “desde sempre, a
união de ambos foi ameaçada pela discórdia, pelo espírito de dominação, pela
infidelidade, pelo ciúme e por conflitos que podem chegar ao ódio e à
ruptura" [1].
Mas, como é verdade que “Deus todo-poderoso (...), sendo soberanamente
bom, nunca permitiria que qualquer mal existisse nas suas obras se não fosse
suficientemente poderoso e bom para do próprio mal, fazer surgir o bem"
[2], Ele mesmo enviou, na plenitude dos tempos, o seu Filho, para redimir não
só o homem, mas também todas as suas relações, de que se sobressai a união
entre o homem e a mulher. Elevando o matrimônio à dignidade de
sacramento, Nosso Senhor fez da aliança conjugal um sinal de Seu amor pela
Igreja e um meio para a santificação e o crescimento mútuo dos esposos.
Se o seu casamento começou do jeito certo, com a graça do sacramento e a
bênção da Igreja, meio caminho já foi andado. Agora, é preciso
conformar-se ao dom recebido e educar-se a partir da moral católica e da
cartilha dos santos, para transformar a sua família em uma autêntica Igreja
doméstica. Seguem, abaixo, algumas breves dicas para continuar bem o
caminho ou, quem sabe, colocar o seu relacionamento no eixo. São palavras da
sabedoria de dois mil anos da Igreja, que com certeza ajudarão na construção do
seu lar.
1. Ninguém pode saciar
plenamente o seu coração
A primeira advertência pode parecer desalentadora, mas é, sem dúvida, a
mais importante de todas: ninguém - absolutamente ninguém
- pode saciar o seu coração. Muitas pessoas hoje se casam para
“serem felizes", com a esperança de que os seus esposos e as suas esposas
as completem e montem para elas um “pequeno paraíso" nesta terra. Após um
tempo, quando elas caem em si e percebem que o paraíso prometido não veio - e
nem virá -, bate o desespero e a desilusão: afinal, o que deu errado?
O casal que entra nessa crise deve entender que nenhuma criatura pode
saciar a sede de infinito do homem. Este só se realiza plenamente quando
encontra o único Outro que o transcende: Deus.
“Fizestes-nos para Vós, Senhor, e inquieto está o nosso coração,
enquanto não repousa em Vós" [3], reza Santo Agostinho. Mais do que ser
companheiro para uma pessoa do sexo oposto, o ser humano foi “constituído à
altura de 'companheiro do Absoluto'" [4], como ensinou São João Paulo
II. Mais do que um pacto matrimonial, o homem foi feito para uma
aliança eterna com Deus.
2. Homens e mulheres são real
e profundamente diferentes
Nenhuma ideologia pode obscurecer este fato inscrito na natureza
humana: homens e mulheres são real e profundamente diferentes.
Para explicar a diferença entre os sexos, o escritor norte-americano
John Gray chegou a colocar homens e mulheres em planetas diferentes. Em seu
famoso best-seller “Os Homens São de Marte, as Mulheres São de Vênus", ele
conta que “marcianos" e “venusianas" viveram por muito tempo em paz,
até que “os efeitos da atmosfera da Terra assumiram o controle, e certa manhã todos
acordaram com (...) amnésia" [5]: tinham esquecido que vieram de planetas
diferentes e, por isso, passaram a viver constantemente em conflito.
Pela história da Criação, nós sabemos que Deus criou o homem e a mulher
no mesmo planeta, mas com as suas diferenças, e que a “amnésia" que
iniciou o referido conflito nada mais é do que o pecado original, que “teve
como primeira consequência a ruptura da comunhão original do homem e da
mulher" [6].
Não se pode, porém, restaurar a harmonia entre o casal negando as
diferenças evidentes entre os sexos, como em uma atitude de rebeldia contra o
Criador. Mais do que uma história dos contos de fadas, o cavaleiro que, com sua
armadura reluzente, mata o dragão e liberta a princesa do alto do castelo, é
uma bela imagem de como o homem, por exemplo, é chamado à bravura. Na vida
ordinária, isso significa enfrentar o mundo, trabalhando e provendo o sustento
da casa e a segurança da família.
Para a mulher, a figura de mãe não é menos heróica. Significa a doação
de amor para que os seus filhos vivam e recebam uma boa educação. Infelizmente,
o feminismo tem introjetado na cabeça das mulheres que ser mãe é uma desgraça e
que elas só serão felizes quando forem “iguais" aos homens. A realidade,
porém, é que, após o tão sonhado “empoderamento" das mulheres, estas não
encontraram a felicidade, mas tão somente a desilusão e a frustração de uma
vida reduzida ao serviço do mercado e do próprio egoísmo. Como disse G. K.
Chesterton, “o feminismo trouxe a ideia confusa de que as mulheres são livres
quando servem aos seus empregadores, mas são escravas quando ajudam os seus
maridos" [7].
3. Ame o seu cônjuge como
Cristo amou a Igreja
Em sua Carta aos Efésios, São Paulo exorta os maridos a amarem
as suas esposas como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela [8].
Com isso, demonstra que o amor não é um “sentimentalismo barato", baseado
no fundamento instável das emoções, mas uma determinação viril, baseada na
rocha sólida da vontade. O pacto matrimonial é uma aliança de sangue, pela qual
os esposos dizem um para o outro: “Eu derramo o meu sangue, mas não desisto de
você". Não sem razão o autor do Cântico dos Cânticos canta que “o amor é
forte como a morte" [9].
De fato, o próprio Deus, no ato mais extremo de amor, morreu pelos
nossos pecados. Seguindo o seu modelo, todo casal que sobe ao altar deve pensar
que está subindo o Calvário, a fim de oferecer a Deus o sacrifício de si mesmo,
pela salvação do outro. Para o bem da pessoa amada, na verdade, tanto o homem
quanto a mulher devem fazer o que for preciso, mesmo que a isso custe fazer o
que não se quer. Muitas contendas entre os casais começam justamente porque um
não é capaz de “dar o braço a torcer" em favor do outro. Sacrificam-se,
então, a paz e a harmonia entre os dois, para satisfazer as próprias veleidades,
ao invés de se sacrificar a própria vontade em favor do outro.
Também para o casamento vale o chamado de Nosso Senhor: “Quem quiser vir
após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me" [10].
4. Deus deve ser o centro de
suas vidas e de seus dias
Não adianta morrer um pelo outro se, primeiro, não se ama a Deus. Por
isso, Ele deve ser o centro de suas vidas e de seus dias.
Para amar alguém, primeiro, é preciso conhecê-lo. O que se diria de um
casal de noivos que, estando prestes a se casar, não soubessem nada um do outro
e não fizessem o mínimo esforço para se conhecerem? Com razão se poderia
chamá-los de loucos, pois querem permanecer unidos até o fim da vida a quem nem
mesmo conhecem. Ora, se para o casamento terreno, que finda com a morte, é
preciso preparar-se com cuidado e empenho, quanto mais para o encontro com
Deus, a quem estaremos unidos não por um dia ou uma vida, mas por toda a
eternidade!
Por isso, é importante estudar as verdades de nossa fé, contidas
principalmente no Catecismo da Igreja Católica e nos Evangelhos, sem jamais
descuidar da oração, pela qual o próprio Deus Se revela e Se comunica a nós.
Uma vez conhecido o grande amor com que Deus nos amou, então, é preciso
que o casal O ame de volta, mudando toda a sua rotina e a sua vida para
colocá-Lo no primeiro lugar de tudo. Se de manhã se acordava correndo para ir
ao trabalho, urge levantar um pouco mais cedo, para oferecer a Deus o que dia
que começa - e, quem sabe, até participar da Santa Missa. Se à noite a família
se reunia para assistir à TV e acabava vendo programas que não prestam - como
são as novelas -, por que não começar a rezar o Santo Terço em família? Se o
domingo tem sido tão somente o “feriado", com passeios e viagens, está na
hora de transformá-lo realmente em “dia do Senhor", levando toda a família
para um encontro com a melhor de todas as famílias, que é a Igreja.
Lembrem-se sempre que a sua aliança matrimonial é, antes de tudo, um
compromisso com Deus. Dois sozinhos não são capazes de levar adiante um
casamento; ao contrário, “a corda tripla não se arrebenta
facilmente" [11].
5. O sexo não é um parque de
diversões
A Igreja, ao mesmo tempo em que valoriza a sexualidade como um dom
precioso do Criador, reconhece que “a sexualidade é fonte de alegria e
prazer". Com isso, ela não pretende dar aos seus filhos uma autorização
para que, depois de casados, façam o que bem entenderem um com o outro, mas que
vivam o sexo de forma equilibrada, mantendo-se, na expressão do Papa Pio XII,
“dentro dos limites duma justa moderação" [12].
Infelizmente, em nosso mundo supersexualizado, o que deveria ser uma
expressão de amor tem degenerado na busca do próprio egoísmo. É muito comum,
por exemplo, que, saturados por múltiplas experiências com pornografia e
masturbação, os homens queiram trazer o chiqueiro do mundo para o seu leito
conjugal, transformando a mulher em um objeto de satisfação sexual, ao invés de
amá-la e respeitá-la como pessoa e companheira. Por outro lado, as mulheres, em
troca de compensação afetiva, acabam aceitando ser transformadas em
“coisas" e usadas como objetos. Ao fim, o que deveria ser uma “aliança de
amor" acaba se tornando um “consórcio de egoísmos".
Para consertar as coisas, é preciso desmascarar a ideia, que alcançou
sucesso com a Revolução Sexual, de que o sexo seria como um parque de
diversões, o qual se buscaria tão somente para o prazer próprio e para a
satisfação dos próprios caprichos. Isso não é o sexo, mas a sua perversão. A
relação sexual foi concebida por Deus para unir os esposos, mas também para
gerar vidas. Por isso, sexo significa, antes de qualquer coisa,
família.
De fato, na família, todos vivem - ou deveriam viver - como em uma “ilha
de paz": a menina, por exemplo, pode andar tranquilamente por sua casa,
consciente de que não será cobiçada por seu pai ou por seus irmãos. Para
afastar do pensamento o adultério do coração [13], de que fala Nosso Senhor,
seria sadio que os homens olhassem para as mulheres como se fossem suas
“irmãs", e vice-versa. Afinal, é nesse estado que todos os seres humanos
se encontram, desde que nasceram, e que se encontrarão principalmente no fim de
suas vidas, quando estiverem face a face com Deus.
Quando seu cônjuge envelhecer, por exemplo, vão-se embora com o tempo
não só o vigor da juventude, como também os atrativos físicos do outro. Se seu
relacionamento está baseado só no sexo, essa é uma péssima notícia. Se desde o
começo, no entanto, você foi treinado para amar - e como diz o Apóstolo, “o
amor tudo suporta" [14]-, você chegará à velhice feliz por ter sido casto
e fiel.
6. Estejam sempre abertos ao
dom dos filhos
Esta dica é indissociável da anterior: estejam sempre abertos ao
dom dos filhos. Quando um casal deliberadamente se fecha à transmissão da
vida, inicia um círculo de egoísmo e morte que destrói pouco a pouco a si
mesmo.
Para entender a imperiosidade deste ensinamento, basta olhar para a
natureza do ato sexual, que foi concebido pelo Criador tanto para unir os
esposos quanto para torná-los participantes de Seu poder criador, na geração
dos filhos. Se separar essas duas dimensões fora do matrimônio significa falta
de compromisso, separá-las dentro do próprio casamento não deixa de ser uma manifestação
“mais refinada", por assim dizer, de egoísmo e falta de amor. Por isso a
Igreja condena os métodos contraceptivos, que vão contra a própria verdade do
sexo. Como ensina São João Paulo II, “o ato conjugal destituído da sua verdade
interior, porque privado artificialmente da sua capacidade procriadora, deixa
também de ser ato de amor" [15].
Todo casal deveria perguntar com sinceridade se a sua decisão de evitar
filhos não vem mais de uma atitude de egoísmo por parte dos dois do que de uma
razão realmente grave e justa. E, para quem argumenta que “filho dá despesa", o Catecismo da
Igreja Católica responde dizendo que “o filho não é uma dívida, é uma
dádiva" [16]. Basta lançar um olhar às numerosas famílias de alguns anos
atrás, que, embora não vivessem imersas em luxo, eram muito mais felizes que as
minúsculas e egoístas famílias de hoje.
O salmista diz que “os filhos são a bênção do Senhor" [17]. Mesmo
que a sociedade de hoje os veja como uma maldição, as palavras do Espírito
Santo permanecem. Continua valendo a pena esperar de Deus o número de filhos
que Ele quiser, ao invés de reduzirmos o número de crianças à medida do nosso
comodismo.
Referências
[1.] Catecismo da Igreja Católica, 1606
[2.] Santo Agostinho, Enchiridion de fide, spe et caritate. 3. 11: CCL
46, 53 (PL 40, 236)
[3] Confissões, I, 1: PL 32
[4.] Audiência geral, 24 de outubro de 1979, 2
[5.] John Gray, Homens são de Marte, mulheres são de Vênus, Rio de
Janeiro: Rocco, 1995, p. 19
[6.] Catecismo da Igreja Católica, 1607
[7.]G. K. Chesterton, Social Reform versus Birth Control, 1927
[8.] Ef 5, 25
[9.] Ct 8, 6
[10.]Lc 9, 23
[11.] Ecl 4, 12
[12.] Catecismo da Igreja Católica, 2362
[13.]Cf. Mt 5, 28
[14.]1 Cor 13, 7
[15.]Audiencia general, 22 de agosto de 1984, 6
[16.]Catecismo da Igreja Católica, 2378
[17.]Sl 127, 3
Fonte Blog Padre Paulo Ricardo de Azevedo:
https://padrepauloricardo.org/blog/seis-dicas-para-um-casamento-feliz

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