A história da Missa Memória viva através dos séculos
A Celebração Eucarística, comumente conhecida por
Missa, foi instituída por Cristo na noite de Quinta-feira Santa, antes de
morrer. Pegando no pão e no vinho, deu graças, abençoou-os e distribuiu-os aos
discípulos, dizendo: «Tomai: isto é o meu Corpo. (...) Isto é o meu sangue» (Mc
14, 22.24). No fim, pediu-lhes que repetissem esse gesto em Sua memória.
Assim fizeram os discípulos de Jesus, os primeiros
cristãos, e sempre sucessivamente, até chegar aos nossos dias. No entanto, o
ritual da Missa passou por algumas alterações até estar como hoje o conhecemos.
Desde os primórdios que se manteve praticamente a mesma estrutura, que divide a
celebração em dois momentos essenciais: a liturgia da palavra e a liturgia
eucarística.
Na primeira parte, dá-se especial atenção aos
textos bíblicos. Nos primeiros séculos, liam-se as Cartas dos Apóstolos às
diversas comunidades e mais tarde os Evangelhos. Aquele que presidia à
celebração fazia, em seguida, uma pequena meditação sobre o que tinha acabado
de ser lido e partilhava-a com todos os presentes. No fim, todos juntos rezavam
o que nós hoje chamamos Oração dos Fiéis, por toda a Igreja. A segunda parte da
celebração dedicava-se à consagração do pão e do vinho e à comunhão.
A Didaqué, um escrito catequético do século i,
apresenta as fórmulas que então eram usadas para a consagração na Eucaristia.
Sobre o cálice deveria dizer-se: «Nós Te bendizemos, nosso Pai, pela santa
vinha de David, teu servo, que Tu nos revelaste por Jesus, Teu servo; a Ti, a
glória pelos séculos»; e sobre o pão: «Nós Te bendizemos, nosso Pai, pela vida
e pelo conhecimento que nos revelaste por Jesus, Teu servo; a Ti, a glória
pelos séculos. Da mesma forma como este pão partido foi inicialmente semeado
sobre as colinas e depois recolhido tornou-se um, assim das extremidades da
terra seja unida a Ti Tua Igreja em Teu reino; pois Tua é a glória e o poder
por Jesus Cristo pelos séculos! »
Durante os primeiros séculos, a celebração da Missa
era bastante simples e evitava tudo o que pudesse desviar a atenção do mistério
central. A partir do segundo milénio, no entanto, começaram a surgir algumas
alterações. Introduziram-se os sacrários, que passaram a ganhar tanta ou mais
importância do que a mesa do sacrifício - o altar. O pão e o vinho tornaram-se
os elementos centrais de toda a celebração e a leitura da Palavra passou para
um plano secundário.
Anos mais tarde, a Igreja decidiu que a Missa
deveria ter um ritual uniformizado e passou a ser celebrada em latim. Para além
disso, o sacerdote passou a estar virado de costas para a assembleia, pois o
altar encontrava-se encostado à parede. Os fiéis participavam muito pouco na
celebração e geralmente limitavam-se a esperar pelo momento da comunhão (quando
esta era possível) ou pela Adoração do Santíssimo Sacramento, não participando
na liturgia da palavra.
O próprio ritual da celebração também se foi
complicando e no período barroco chegou a tornar-se quase como que um
espetáculo. Grandes ornamentos nas igrejas, o uso excessivo de incenso e coros
e organistas que davam autênticos concertos foram algumas das inovações desta
época. Como consequência, isto afastou ainda mais os fiéis do essencial da
celebração.
A partir de certa altura, em finais do século XIX e
inícios do século XX, começou a perceber-se que o
ritual que então se celebrava se tinha afastado bastante do original dos
primeiros séculos. A Igreja começou a sentir necessidade de voltar às origens.
Por este motivo, entre muitos outros, o Papa João XXIII resolveu convocar os
bispos de todo o mundo para uma grande reunião com vista a reformar alguns
aspectos da Igreja, entre os quais a celebração da Eucaristia. No dia 11 de
Outubro de 1962 começaram oficialmente os trabalhos daquele que ficaria
conhecido como Concílio Vaticano II, um dos mais importantes concílios da
história da Igreja.
Do Vaticano II saíram importantes reformas para a
vida da Igreja, muitas delas dirigidas à forma como até então se celebrava a
Missa. Procurando regressar ao essencial, enfatizou-se a presença real de
Cristo no pão e no vinho e deu-se nova importância à liturgia da palavra. Para
isso, o altar passou a tomar um lugar central, sendo colocado diante de todos.
A Missa passou a ser celebrada na própria língua e o ambão (de onde se fazem as
leituras) tomou um lugar de destaque, de modo a que toda a assembleia
participasse na celebração. A liturgia da palavra e a liturgia eucarística
voltam, então, a unir-se, formando duas partes essenciais do ritual que não podem
ser separadas. A Missa tornou-se algo mais comunitário, em que os fiéis
participam como convidados da Ceia do Senhor e onde também podem desempenhar
diferentes ministérios: leitores, cantores, acólitos, etc.
Atualmente celebra-se a Missa de acordo com as
reformas instituídas pelo Concílio Vaticano II. No entanto, o Papa Bento XVI
recentemente permitiu que fossem celebradas também Missas tri dentinas, isto é,
Missas em latim, de acordo com o missal publicado no século XVI por S. Pio V,
renovado em 1962 pelo Papa João XXIII. Diz o Papa que este missal nunca chegou
a ser proibido e que, apesar de ser possível usá-lo e celebrar em latim a
Eucaristia, a forma normal continuará a ser aquela que saiu do Vaticano II, que
é a mais usada hoje em dia.
O Papa Bento XVI salienta, contudo, que, apesar de
todas estas transformações na liturgia da Missa, não existe qualquer ruptura
com o passado. «Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece
sagrado e grande também para nós, e não pode ser de repente totalmente proibido
ou mesmo considerado prejudicial. Faz-nos bem a todos conservar as riquezas que
foram crescendo na fé e na oração da Igreja, dando-lhes o justo lugar», diz o
Papa na Carta aos Bispos a propósito da publicação do motu proprio Summorum
Pontificum, sobre a liturgia latina.
Apesar de todas as mudanças e reformas ao longo dos
séculos, a base da Missa permaneceu sempre a mesma. A estrutura pode ter mudado
ligeiramente, mas o mistério manteve-se e continua a alimentar a vida da
Igreja.


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